17 de novembro de 2004

Grandes autores

Confesso: sou um diletante da arte. Por mais que alguns críticos, como Gombrich, defendam que não existe uma Arte, com A maiúsculo, uma entidade abstrata chamada Arte, é impossível crer que ela não exista. Penso assim porque, se não houvesse a Arte, não haveria artistas, esses guerreiros que contam com poucos instrumentos, rústicos, triviais, banais, que, devido a um trabalho consciencioso e árduo, constroem grandes monumentos, catedrais, sejam esculturas, músicas, literatura.
O que me motiva a escrever isso é ter tido contato, no meu pouco tempo de estudante de literatura - sim, porque, antes de tudo, sou um estudante -, com autores que fazem da vida um circo tão desengonçado se comparado às suas obras. Acabei de ler O Agente Secreto, de Joseph Conrad, um romance que mistura uma intriga policial com discussões ideológicas e magníficas sondagens psicológicas. Um romance que me trouxe à lembrança o Dostoiévski que conheci em Crime e Castigo. E me pergunto: se isso não é Arte, é o quê?
Como sou um admirador do gênero romance, fico me indagando, numa obsessiva curiosidade, se minha vida seria a mesma se eu não tivesse conhecido obras de Faulkner, Conrad, Dostoiévski, Marcel Proust, Machado de Assis...
São autores com que, depois de termos contato, por mais superficial que seja, com seus romances e contos, ficamos estagnados, pasmos diante de tanta capacidade de enxergar o ser humano, e exclamamos, num misto de admiração e surpresa: Puta que pariu! porque nenhum adjetivo pode caracterizar o significado de cada um de seus livros.
São como catedrais construídas ao longo de séculos, gigantescas, assombrosas, perante as quais apenas soltamos interjeições guturais, palavras que não são palavras ainda, apenas sons incompreensíveis mas cheios de sentido.