27 de fevereiro de 2009

NA PRAIA

Só o vento me acompanha. Ele, que não me vê mas sente o frio que treme no meu corpo. Nada ao redor, a não ser a areia molhada que me faz sentir pesado e infantil. E o mar, que começa no toque dos meus pés e termina no toque no céu, em algum lugar do mundo. O frio também treme sob a pele das águas. Não reclamo dessa solidão tão temida. Meu medo é como a gaivota voando raso, quase nadando, esperando no vôo o peixe indefeso e sábio - ele, que não sabe que espera a morte sem esperá-la.
E se eu entrasse na onda mais alta, se me deixasse ir? Mas tenho medo. Serei capaz de suportar não saber o que até a concha vazia e quebrada já sabia antes de ser uma lembrança? É que deixar-me ir exige uma coragem de herói, e eu, há muito tempo, desaprendi a bondade de ser levado. Passei a escolher meus caminhos, todos eles, até os não-trilhados. Tenho casa, família, livros. Tenho um nome. Sinto um amor enorme por tudo. Não sou nada. Meu coração pulsa de susto fascinado. Meus olhos quedam entorpecidos diante da maravilha que é estar. Saber não me conforma, existe um mundo sem limites na minha ânsia. Quero tudo, e não quero nada. Quero aquilo vibrante entre um segundo que acabou e o segundo que já não será mais porque já foi. Quero o segredo de cada onda.
E se eu for até o fim do mar: encontrarei seu fim?
Eis que ouço uma voz humana, creio eu. Também já passou. Somente o vento me adentra, imparcial, preciso, indômito. Mas ainda estou em pé, e o mar. Escrevo meu nome na areia, sei que isso não é o que sou, mas, ainda assim, estou acostumado a ser o que ele diz. Meu nome é meu medo. Seguir as minhas pegadas que jamais verei é a coragem maior. Sei que, de repente, uma mão quente deslizará pelos meus cabelos como a onda afaga a areia. Por enquanto, sentir os dedos carinhosos do vento abranda minha febre.

17 de fevereiro de 2009

INTERLÚDIO

Quando o mar encontra o sol,
Não há nuvem como muro,
O olhar é pura penumbra,
E um corado fim de tarde
Com passos de bailarina
Se mascara em noite densa,
Concluo nossa existência:
Enfim descubro que o dia
Nada mais é que uma noite
Sem luz, provisoriamente.