12 de outubro de 2005

Saudade

Talvez a "lenda" que diz que apenas em português existe uma palavra para designar o sentimento "saudade" tenha se desfeito ao longo do tempo. Mesmo porque esse sentimento não pode ser típico de um povo só ou daqueles que têm uma relação histórica com ele (como nós, brasileiros, ex-colonizados pelos portugueses). A saudade é um sentimento humano, acima de tudo. É que cada cultura o percebe e o entende de uma forma, atribui a ele uma importância grande ou ínfima, não sei.
De qualquer forma, trata-se de algo nosso, uma dor, uma angústia. Talvez sintamos saudade porque temos memória, somos capazes de nos lembrar de coisas que fazem parte do passado, de um tempo condenado à não-existência. E como é terrível pensar na vida como algo a não existir mais!
Nesses últimos dias, como tenho ficado mais tempo em casa, ando pensando muito na minha vida como um todo. E me veio uma saudade da infância... Às vezes, olhando para meus alunos (ou me lembrando deles, agora que estou longe deles), vejo o quanto fui feliz, apesar de tantas vicissitudes (da falta de melhores condições, da falta do meu pai). Eu ficava ao lado dos meus amigos, aquele bando enorme de gente, até tarde da noite, correndo, conversando, achando que a vida seria sempre daquele jeito.
O tempo passou, impiedoso, imperceptível como o ato de respirar.
Eu fui obrigado a crescer, todos nós fomos. E só consigo imaginar a vida como um livro sendo escrito... Cada vida é uma história, é uma obra sendo construída a cada segundo impávido que a consome. Como um romance: cada palavra colocada sobre o papel anuncia seu fim.

10 de outubro de 2005

O terremoto de Islamabad


Catástrofes naturais sempre aconteceram, e o homem, diante do que não pode evitar, duvida de sua inteligência e de sua potência. Nós, tão pequenos, tâo incapazes e, ao mesmo tempo, tão ágeis num mundo arisco como um animal selvagem.
Os escombros e as lágrimas proliferam em Islamabad. A destruição daquilo que parecia seguro sob um chão firme e imutável faz soar na nossa mente o som do... que nome dar ao que não nos pertence? Com qual termo podemos, incipientes, definir o indefinível? Faltam palavras, como faltam idéias suficientes para compreender "Deus", "tempo", "acaso". "Destino?"
Há poucas semanas, minha vida estava planejada pelo menos até o final deste ano que caminha para o fim. Então, resolvi algo totalmente diferente. Aonde foram meus planos? Desfizeram-se, para que outros nascessem. E, assim como estes agora estão aqui, dentro de mim, eles podem também tomar outra direção.
Pois, na verdade (caso ela exista), o que nos pertence, ainda que de forma tênue, indecisa, é isso: uma noção ainda vaga, ainda imprecisa, denominada VIDA.