1 de maio de 2007

Uma (quase) defesa do verso

Em tempos de internet, cultura rápida e descartável, frases antes balbuciadas que ditas, a poesia ganhou marcas de concisão que, por vezes, mal reconhecemos um poema. Poucas palavras, poucos versos, quase lampejos, poesia atômica.
Não sou conservador ou passadista. Reconheço que cada época possui suas convenções, e o minimalismo é realmente uma convenção da nossa época. Linguagem veloz, breve, urgente; metáforas que golpeiam mais que deslumbram; trocadilhos; abreviações; jogos verbais radicais; uma poesia que se move sem que tenhamos tempo de a contemplar.
Mas por que um poeta contemporâneo deve necessariamente escrever assim? Por que parece tão anacrônico compor poemas em que se utilizam métrica, rimas, enfim, aqueles recursos que observamos nas obras estudadas nas escolas? Se a arte dialoga, de uma maneira ou de outra, com seu contexto, o fato de escrever poesia metrificada, lembrando aquele verso tradicional de tempos atrás, não diz algo sobre nossa própria geração?
Hoje parece que escrever poesia é fora de moda; quanto menos parecer poesia, mais atual. Discordo disso. Poesia, como qualquer arte, é trabalho, cuidado, apreciação e crítica, tudo junto, não apenas uma expulsão momentânea de um estado de espírito que precisa se expressar. Nada contra essa poesia mais minimalista; eu também escrevo assim, por vezes. Mas afirmar categoricamente que hoje a poesia tem de ser minimalista, que a forma "morreu", isso é um equívoco.
Sem cuidado formal não há arte. Barulhos ritmados não são música; só serão música se forem trabalhados a fim de se tornarem música. O mesmo acontece com a literatura. Palavras jogadas sobre o papel não são poema, nem conto, nem romance. Versos rimados, somente, também não são poesia.
A verdade é que, nos nossos dias, cabe ao poeta deliberar sobre o que fazer do seu repertório cultural e técnico, mas desprezá-lo em favor de uma suposta "liberdade artística" me parece antes arrogância que engenho. Qual o problema de se compor sonetos hoje em dia? Então Glauco Mattoso é anacrônico ou um poeta ruim, ou melhor, um poeta ruim por ser anacrônico? João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna recuperaram, no século XX, a forma medieval do auto, e recriaram-na com maestria; então?
E é irritante essa tentativa quase obsessiva da crítica de eleger "o melhor poeta do Brasil atualmente" ou elencar as "novas promessas da literatura brasileira", sempre tendo em vista aqueles que aparentemente são mais "radicais", menos "retrógrados", mais "originais" (seja lá o que isso significa).
Poetas, meus irmãos, escrevam utilizando a forma que julgarem mais adequada, mas jamais esqueçam que poesia é arte, não revolta, dor, desabafo ou "dor-de-cotovelo". E esqueçam essa crítica também, não fará mal algum.