31 de julho de 2011

UMA QUESTÃO

Diante de nós, um muro.
E uma fenda rasgada na carne.
Por onde podemos passar?

16 de julho de 2011

REGRESSÃO
















Na face inquieta do lago
a terra calma, a água clara,
e um desejo de cair.

De onde... que nascentezinha
perfurou o chão passado
e esculpiu na lama um homem?

Vejo um tigre branco ouvir
o mesmo som surdo e mudo,
e indo o sol, e vindo o sol...

Seus olhos me falam mais
que as palavras (cerração),
e a coruja assiste a tudo.

Como estás distante, amor,
como é bom não te querer,
e como arde esse pensar.

Breve será noite aqui
no tempo de folhas e águas.
Mas até quando é o não-tempo?

5 de março de 2011

CARNAVAL

A carne solitária na carne.
Carne sem carne, sem alma, sem osso.
Carne de pólvora, de estilhaços.
A carne cansada da carne.
A carne cansada de carne.
Carne para a qual não há vela, não há sopro, não há sobra.
Carne justa e injusta,
desajustada.
Resquícios dela a cada suspiro dela, o provisoriamente último.
Transbordamento, aviltamento, animação.
Carne morta-viva. Mas morta.

28 de fevereiro de 2011

COMEÇAR

Começar é aquilo que nunca começa, é um fim já quando começa. O fim do que nunca começa já no seu primoderradeiro suspiro, seu grito de desejo e de renúncia, sua abstenção plena de desesperança e de perseverança.
Começar é um átimo, um relâmpago em meio às trevas soturnas do amanhecer. Ouve-se um grito, e já não se trata de grito, mas de súplica indiferente. Quem nos ouve? Que tranquilidade se perturba com o mover dos lábios convulsos aqui no interstício entre uma verdade e a Verdade? Começar é uma dor maior que a dor.


5 de janeiro de 2011

NOITE

A noite não é totalmente escura. Ela é algo entre o avermelhado e o roxo, um azul celeste que se tingiu de sangue e coagulou-se. O medo da noite não é a sua escuridão, mas a sua insuficiente claridade. Mesmo com os olhos incapazes que temos, quanta verdade desvelada e revelada na noite! Olhar a noite é abrir uma vala no peito...





(Vincent Van Gogh. Noite Estrelada)