7 de setembro de 2008

O ALBATROZ (CHARLES BAUDELAIRE)


(Um dos meus poemas preferidos, sem dúvida arquetípico... O Poeta encarcerado entre as gentes, das quais vive... Não tão puro, mas como custa caro ser menos impuro, a tentativa de se livrar da conspurcação... Mas a timidez do canto, algo que queima na ânsia da voz...)


Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao príncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado ao chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

(tradução de Ivan Junqueira)