3 de agosto de 2008

MORTES E ENTRADAS (DYLAN THOMAS)

(Mais uma homenagem a um poeta que eu estou aprendendo a conhecer. Enquanto eu não conseguir entendê-lo, só me resta admirá-lo.)


Deaths and Entrances

On almost the incendiary eve

Of several near deaths,
When one at the great least of your best loved
And always known must leave
Lions and fires of his flying breath,
Of your immortal friends
Who'd raise the organs of the counted dust
To shoot and sing your praise,
One who called deepest down shall hold his peace
That cannot sink or cease
Endlessly to his wound
In many married London's estranging grief.

On almost the incendiary eve
When at your lips and keys,
Locking, unlocking, the murdered strangers weave,
One who is most unknown,
Your polestar neighbour, sun of another street,
Will dive up to his tears.
He'll bathe his raining blood in the male sea
Who strode for your own dead
And wind his globe out of your water thread
And load the throats of shellswith every cry since light
Flashed first across his thunderclapping eyes.

On almost the incendiary eve
Of deaths and entrances,
When near and strange wounded on London's waves
Have sought your single grave,
One enemy, of many, who knows well
Your heart is luminous
In the watched dark, quivering through locks and caves,
Will pull the thunderbolts
To shut the sun, plunge, mount your darkened keys
And sear just riders back,
Until that one loved least
Looms the last Samson of your zodiac.


Mortes e Entradas

Quase às vésperas incendiárias
De várias mortes próximas,
Quando alguém ante os despojos de quem mais amaste,
E desde sempre conhecido, tenha de abandonar
Os leões e as flamas de sua volátil respiração,
Quem dentre os teus amigos imortais
Elevaria o som dos órgãos do pó inventariado
Para lançar e cantar os teus louvores,
O que mais fundo os invocasse conquistaria a sua paz
Que não pode se afogar ou se esvair
Sem fim junto à sua chaga
Nas muitas e alienantes dores conjugais de Londres.

Quase às vésperas incendiárias
Quando diante de teus lábios e chaves,
Fechando, abrindo, se entrelacem os estranhos assassinados,
Aquele que é o mais desconhecido,
Teu vizinho, a estrela polar, sol de uma outra rua,
Mergulhará em tuas lágrimas.
Ele há de banhar teu sangue chuvoso no másculo oceano
Que percorrerá teu próprio morto
E fará girar sua esfera fora de teu fio de água
E entupirá as gargantas das conchas
Com todos os gritos desde que a luz
Começou a jorrar através de seus olhos tonitruantes.

Quase às vésperas incendiárias
De mortes e entradas,
Quando próximo e estranho, ferido nas ondas de Londres,
Hajas procurado a tua tumba solitária,
Um inimigo entre muitos, que bem sabe
Como cintila o teu coração
Nas trevas vigiadas, pulsando entre furnas e ferrolhos,
Arrancará os raios
Para tapar o sol, mergulhará, galgará tuas teclas sombrias
E fará definhar os ginetes para que recuem,
Até que aquele despojo adorado
Avulte como o último Sansão de teu zodíaco.
(trad. de Ivan Junqueira)