23 de novembro de 2013

FATIAS DE VIDA

"Ao exigir do artista uma atitude consciente em relação ao seu trabalho, você tem razão, mas confunde dois conceitos: a solução do problema e a colocação correta do problema. Apenas o segundo é obrigatório para o artista."

Anton Tchekhov





Tchekhov é um escritor sublime, e, com ele, estou aprendendo a cada dia o quanto as "fatias de vida", muitas vezes, tendem a ser mais significativas que a vida inteira. Pelo menos na Literatura.

A vida não se revela na sua inteireza, mesmo porque a vida não é inteira. Ela se revela em certos momentos, aqueles nos quais toda a experiência, todo o conhecimento, toda a paixão se condensam e deixam evidente o significado da nossa existência. Não importa que, ainda assim, trate-se de um significado parcial - ao menos, ele dá sentido à nossa vacuidade, ou à vacuidade dos nossos atos e hábitos.

Tchekhov, Katherine Mansfield, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Raymond Carver, John Cheever são exímios contistas porque, além do domínio técnico, sabem captar o quanto há de relevante em cada minúsculo momento da existência, na miserabilidade dos pequenos eventos, das pequenas percepções, das pequenas pistas que a vida oferece. 

Leio "Felicidade" ou "A festa no jardim" (Mansfield), "A dama do cachorrinho" ou "Angústia"(Tchekhov), "Aqueles dois" (Caio), "A imitação da rosa" (Clarice) e me pergunto: como eles foram capazes? que olhos eles acionaram para captar e transmitir tanta verdade? 

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