(Um soneto, apenas um soneto: obra máxima de concisão. Mas toda uma história, que mistura o lendário e o real, a ponto de não sabermos mais distinguir o que é verdade do que é ficção. Mas a arte também é real, porque também é construção. A História é terror, violência e fascinação... e morte! O Monstro que encanta e estupra. A Arma que seduz e assassina. Um ciclo que engendra a humanidade e do qual ela jamais se libertará.)
LEDA AND THE SWAN
A sudden blow: the great wings beating still
Above the staggering girl, her thighs caressed
By the dark webs, her nape caught in his bill,
He holds her helpless breast upon his breast.
How can those terrified vague fingers push
The feathered glory from her loosening thighs?
And how can body, laid in that white rush,
But feel the strange heart beating where it lies?
A shudder in the loins engenders there
The broken wall, the burning roof and tower
And Agamemnon dead.
Being so caught up,
So mastered by the brute blood of the air
Did she put on his knowledge with his power
Before the indifferent beak could let her drop?
LEDA E O CISNE
Um baque súbito. A asa enorme ainda se abate
Sobre a moça que treme. Em suas coxas o peso
Da palma escura acariciante. O bico preso
À nuca, contra o peito o peito se debate.
Como podem os pobres dedos sem vigor
Negar à glória e à pluma as coxas que se vão
Abrindo e como, entregue a tão branco furor,
Não sentir o pulsar do estranho coração?
Um frêmito nos rins haverá de engendrar
Os muros em ruína, a torre, o teto a arder
E Agamênnon, morrendo.
Ela, tão sem defesa,
Brutalizada pelo abrupto sangue do ar,
Se impregnaria de tal força e tal saber
Antes que o bico inerte abandonasse a presa?
(trad. de Augusto de Campos)