26 de junho de 2010

UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A ESCRITA

Escrever é doloroso. Antes de ser aquela dor romântica de quem se sente predestinado, escolhido pela deusa Poesia, trata-se de uma dor prática: a de se isolar da vida para revivê-la. Revivê-la na arte de a recriar em forma. Porque é preciso recolhimento (sim, mesmo que se esteja num ambiente público), concentração, desprendimento, liberdade (apesar das contingências da vida).
Escrever é muito doloroso. A dor de não ser útil aquilo que se escreve, saber que nenhum poema ou nenhum romance não servirá a causa alguma, a ninguém. Ou talvez sirva, porém por outras razões que só o leitor conhece (quem dera!). A dor da sensação (às vezes, certeza) de ter perdido tempo não tão precioso vivendo a vida que bane o poeta do seu fluxo para que ele a reconstrua. Ou não. Ou vice-versa.
Sem exagero. Sem fantasia. Escrever é doloroso.