10 de novembro de 2008

O TORSO ARCAICO DE APOLO (Rainer Maria Rilke)

(Um dos poemas mais belos que a humanidade já presenciou, numa versão que, nas palavras de quem entende, recria com igual beleza o original. Aqui, o encontro de dois poetas superiores, como se ambos contemplassem a mesma obra e, desse ver entranhas, chegassem à mesma conclusão: a matéria esconde na sua brutalidade a mão do homem capaz de redescobrir no inanimado a vida que o guia.)

Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas. Porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.

Seus limites não transporia desmedida,
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.

(Tradução de Manuel Bandeira)

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