22 de setembro de 2004

Prólogo

Primeiro de tudo: por que candidato a poeta? Não sei se tenho uma visão extremamente sacralizada do que possa ser a poesia, mas acredito que ser poeta é algo que exige do ser humano uma dimensão tão profunda de humanidade, algo intenso demais para pessoas enraizadas no cotidiano mais raso de suas emoções.
Ser poeta é além de ser humano. É estar distante do ramerrão o bastante para adentrar-se nele e remover suas frágeis estruturas tendo como instrumento nossa linguagem. Tirar do cotidiano da linguagem seu sub-reptício poder encantador. Há algo de mágico nas palavras, capaz de construir e de destruir, uma ação interferindo na outra ou conjugando-se à outra.
Enxergar isso está além do que a maioria de nós, mortais à espera da morte, numa vida insossa e restrita, tem a capacidade de fazer. Penetrar "surdamente no reino das palavras" (Drummond) para transcender o que a nossa parca realidade nos oferece a preços tão altos faz-se atividade não de escolhidos pela poesia, mas daqueles que escolhem a poesia.
E esse lugar está destinado a poucos.
Eu escolhi a poesia, mas ainda falta encontrar o caminho até ela. Por isso, sou um candidato a poeta, aspirante a caminheiro por estradas sombrias e tortuosas, por palavras traiçoeiras e viciadas, a fim de alcançar esse lugar tão misterioso quanto mágico a que damos o nome de arte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

As suas palavras