2 de dezembro de 2008

ANDARILHO ou O JARDINEIRO DE GALÁXIAS

Ele era apenas um homem. Pequeno demais para conter represas, grande demais para beber de suas águas. Ele era mínimo como um coração que bate num corpo sem vida. Olhava rosas sem saber que elas estavam ali para viver para sempre, embora morressem nas navalhas do dia. Procurava adentrar buracos-negros nos olhos dos outros, mas jamais era sugado, ele, que nascera para o vento, para o sol, para si mesmo. Os outros homens o cumprimentavam distraídos, como quem faz o sinal-da-cruz ao deparar um defunto. As mulheres pareciam ignorá-lo, sabendo que aqueles braços, talvez, pudessem protegê-las quem sabe do quê. Tudo tão distante, tudo tão fútil, tudo tão vivo.
Pensar doía como dentes doíam. Os seus dentes de querer doíam. Viver era uma cárie funda que só seria curada com uma extirpação. Vasculhava seus bolsos em busca de algum dinheiro e, quando o encontrava, guardava-o novamente porque gastar mostrava sua despreocupação com o futuro. Ainda viveria muito, sabia. Mas se o que viveria seria alguma espécie trôpega de vida, quem é que saberia. Seus pés pareciam consumir o cimento da calçada e se desfazerem sob a dança entre as nuvens e o sol. Que brilho doente! Que fascinação de se manter cego! E como era bom enxergar!
Ele era apenas um homem. E se colheria do seu jardim de estrelas alguma flor vindoura, algum fruto verde, ninguém jamais poderia saber.

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