6 de março de 2014

IMPROVISO DO ALTO DA BOA VISTA




Quantos lugares cabem na minha saudade de mim? Como pedras que se erguem durante milênios ignorados, o meu ser-saudade persiste na memória. Jamais saberei a verdade da pedra imensa, da lagoa, da onda intensa, da mata. Assim como a minha essência ancestral. Toda a minha vida tem sido a tentativa de gravar meu nome nessa pedra para que, daqui a três milênios, ao voltar aqui, eu encontre alguma referência, alguma marca que prove a validade de existir. Por que assim? Por quê? Este exercício constante de imitar a rocha, a água, o vento, a luz solar. E tudo é resposta! E nada é resposta. Como contemplar esta paisagem e pensar que, se o morro cederá à pressão das mãos do Tempo, resistirei?! Quando me perder nesses domínios, tornar-me-ei semente? Proliferarei? Poderei me reconhecer numa vida que talvez nunca tenha me pertencido? Quando eu retornar, será tão difícil, de novo, ser eu?


(Ao som de "Sombras Outonais", de Alexandre Guerra)

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