28 de março de 2007

Além de tudo, aqui mesmo

Então, de repente, como quem tateia um facho de luz úmida, posso saber que abrir os olhos fere-me dentro. Se, ao me levantar de minha cama de sonho, angustiado percebo que ando como quem respira, imagino que seria melhor abrir asas sem as ter e voar.
Mas não posso. Do cômodo contíguo, um som agudo e monótono me avisa de que o mundo independe de mim - é impossível adorar. Nem a voz que me incomodava de tanto amor agora me acena. Quem está aqui, além da solidão que me é?
Indago, com lacrimejante lassidão, dos fantasmáticos raios de sol que adentram os minúsculos espaços entre o dentro e o fora... O quê?
Como saber o que virá depois do agora?
Se uma pedra de fogo ultrapassar a fragilidade desta redoma, se um homem sem piedade me desfizer do que sou, se tudo o que é absurdo puder acontecer, que força tenho eu para reagir?
A imensidão é o espaço do desejo... e do medo.
Não me importa o pano, o corpo, o sepulcro ou o além. Eu quereria o beijo, o pão, o riso e a verdade, caso existissem ao tocar o redor.
Subir ao pico do Everest ou descer ao fundo de Mariana... Qualquer lugar, que não aqui. Poder ler mais que viver... Fumar o instante... Beber cada gota do instante... Mas jamais perceber seu fim.
Contudo, abro, cauteloso, a janela, atendo o telefone.

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