24 de março de 2007

Rascunhos poéticos

Estou participando de uma oficina na Casa das Rosas intitulada "Rascunhos poéticos". Tem sido uma oportunidade como eu jamais tive antes. Encontrar pessoas que talvez creiam na palavra, na arte como semente, na força redentora do plantar palavras.
Desses encontros têm saído algumas "coisas", poemas ou projetos de poemas ou projetos de projetos. Vou postar aqui dois deles.


Idílio outonal

Ornei de mil sonhos as margaridas
do jardim defronte a nós... Nossos braços,
embriagados com as noites idas,
um coração formavam, de olhos baços.

E assim que recruzamos nossas vidas,
o tempo deslizava sem cansaços.
Se as chuvas desaguavam destemidas,
tínhamos um ao outro... e os abraços...

Mas como o vinho acaba e finda a espera,
e a hora, sôfrega, se esgueira e vai,
e a noite, manta tênue, muda, cai,

de cinza colorimos a quimera,
luz pretérita que não ilumina
mais o leito desse amor que termina.


Ré Menor

Não é de mim que falo,
é desse mar de som,
desse infindo céu de sangue
que o vento descobre
no horizonte...

Não é meu esse grito
tímido de violoncelo
na penumbra do arco-íris...
Sentado e só na areia,
teu olhar redime
como o poente em fogo...

Teu riso já não é meu
como a terra que freme
ausente de si mesma...
Almejei teu silêncio
como o cego a não ter medo.

Mas este devaneio que canta
nos espaços do que penso
só traz o vago. E o imenso...


São rascunhos. E toda obra é, no fundo, um rascunho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

As suas palavras