8 de fevereiro de 2007

Descobertas e Redescobertas...

Nunca costumo citar Manuel Bandeira entre os meus poetas favoritos. Mas aconteceu de, hoje, andando entre os espaços provocadores de uma biblioteca a qual freqüento, deparar com sua "Estrela da vida inteira". A súmula de uma vida dedicada à poesia. A trajetória de um homem que colaborou imensamente para a nossa literatura. Mas por que me distanciei tanto de um poeta que foi um dos primeiros a me cativar, lá nos princípios indefinidos da minha atração pela poesia?
Não sei responder. Talvez por que, conforme fui conhecendo outros poetas, afastei-me aos poucos dos que me trouxeram para esse mundo enigmático. Porém agora, reencontrando-o, percebo que seu valor é tão incomensurável quanto a beleza de sua arte.
Há algo mais profundo do que o mundo que habita em nós? Bandeira se pergunta o tempo todo qual a raiz das coisas, o que é essa vida que ele tanto persegue... Mas não parte para as grandes indagações, não elabora complexos pensamentos de inspiração vária como o ocultismo ou a filosofia... Ele vai ao que está perto, aparentemente tangível. É o cotidiano, o comezinho, o prosaico que lhe interessa. É a vida que pulsa nos intervalos entre o acordar e o dormir, nas lembranças de uma vida que não pode mais ser resgatada a não ser pela arte, no contato com entes que de alguma forma se descobrem no meio desse turbilhão tácito.
Nada pode ser mais poético do que descobrir que a vida está latente naquilo que menos nos chama a atenção... E como dói ter consciência da grandeza e da vacuidade de tudo isso. Estamos destinados ao Nada? Se estamos rumando para o fim absoluto, para a "Morte absoluta", então nos resta apenas - talvez - nos apegar ao que é nosso, nem que esse "nosso" seja diminuto.
No entanto, eu me pergunto com ansiedade: o que é nosso neste mundo? As lembranças? mas elas são fabricadas pela desilusão atual... Os amigos? mas eles estão ocupados demais em viver apenas a aparência de suas próprias vidas. A família? O emprego? Nem mesmo o que escrevo me pertence, pois, se eu mostro isso a alguém, já não é meu.
Se ser é estar, onde estou? Acho que é isso que eu procurei expressar no último poema que escrevi. Não tem ainda um título definido, mas creio que seja um dos melhores trabalhos de toda a minha vida. Fui inspirado pela re-re-releitura de "O cemitério marinho", de Paul Valéry. O poema é um espelho que nos reflete em palavras. Ao me ver refletido, só encontro esta indagação: o que estou fazendo aqui? se é tão bom, por que dura tão pouco? se é tão ruim, por que não terminar tudo? Eh Bandeira... Que dúvida!

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